Está circulando nas redes sociais um vídeo produzido pela agência de notícias Ruptly. Nele, uma mãe apresenta a Girlie Glue, uma cola feita grudar acessórios na cabeça dos bebês recém nascidos.
O vídeo mostra mães brasileiras relatando que colocam lacinhos nas cabeças de suas bebês para que as pessoas possam identificá-las como meninas quando saírem à rua. “Nunca é cedo demais para ser girlie”, diz o site oficial da marca.
“Na correria do dia a dia, não dá tempo de enfeitar, colocar roupinha rosa. Então eu só passo a colinha, coloco um lacinho e tá tudo certo. Ela não passa por menino, porque já tem um lacinho na cabeça, e quando eu coloco no bebê-conforto também não vai machucar”, explica uma mãe no vídeo.
O comercial gerou controvérsia: algumas pessoas estão compartilhando o vídeo apoiando a ideia justificando que a cola, feita de agave e água, não traria prejuízos aos bebês. Já outros defendem que colar algo na cabeça de uma menina apenas para identificar o seu gênero é algo extremamente nocivo.
Para opinar sobre a polêmica, conversamos com Caroline Arcari, diretora da Escola do Ser e especialista em educação sexual. Sobre a decisão das famílias de usarem a cola, ela pondera:
“Trabalho na área de garantia de direitos de crianças e adolescentes. Então minha avaliação será sempre no sentido de observar a necessidade da criança”.
O laço é uma necessidade e capricho da mãe ou do pai, bem como do seu grupo social. Logo, não me parece atender a alguma demanda da criança.
“Além disso, se até produtos específicos para bebês podem causar alergia, eu não diria que uma colinha pode ser tão inofensiva assim. Na dúvida, o interesse pelo bem estar da criança deve prevalecer. E isso vale pra laço, brinco, vestidos exagerados, sapatinhos de salto, meia calça que pinica. Criança precisa de leite materno (sempre que possível), afeto, liberdade e conforto. E isso vale pra qualquer bebê, independente do sexo biológico”.
Para quem perguntar se é menino ou menina, é só responder: ‘é um ser humano saudável e amado’.
De acordo com a Caroline, a questão é bem mais profunda, e dar tanta ênfase para a aparência feminina pode ser extremamente danoso. Para ela, o problema já começa na maternidade, quando se fura a orelha da criança para identificá-la como menina. “Algo tão corriqueiro é um dos primeiros símbolos de diferenciação compulsória a partir do sexo biológico. É um desrespeito ao corpo da criança, autorizado por uma sociedade que se acha dona das crianças e de seus corpos, quando deveria ser responsável e protetora”, finaliza.